quinta-feira, 2 de novembro de 2017

EU FICO DESGRAÇADO DA MINHA BRASSAGEM

OLÁ! Cervejeiro blogueiro.

Bem vindo à minha página. Vamos falar um pouco sobre cerveja.

Quanto tempo, não?

O blog ficou abandonado por algum tempo, MAS não acabou (TAN TAN TAAAAAAAAAAAAAANNNN). O motivo da ausência é a correria da vida. Enfim...

Como já mencionei, o objetivo do blog é apontar os problemas na minha produção de cervejas, e hoje eu tenho uma ótima história.

Digo... Não tão ótima assim. Na verdade, essa história é bem triste. Mas serve de aprendizado.

Então vamos lá!


A RECEITA


No dia 07 de outubro de 2017, um sábado, eu iniciei a brassagem de uma Weiss pensando em consumir no natal.

O objetivo era produzir 30 litros de chopp, dos quais eu ia dividir 5 litros com meus amigos e o restante seria consumido com minha família.

A receita foi:

  • 3,5 kg de malte trigo;
  • 3,0 kg de malte Pilsen;
  • 15 g de lúpulo saaz (fervido por 10 minutos);
  • 30 g de lúpulo H. Hersbrucker (fervido por 55 minutos);
  • 0,72 g de whiflock;
  • 1 sachê de levedura WB-06

Na etapa de pré-produção não houve problemas. Limpeza, sanitização, moagem, água filtrada e fervida, tudo nos conformes.

Ah, uma observação MUITO importante: recentemente adquiri um fermentador cônico (o da foto) e foi a primeira vez que o utilizei.


Fermentador de fundo cônico


A BRASSAGEM


Os problemas da produção começam comigo acordando muito tarde (em muito tarde, lê-se 10 horas) e cansado devido à semana de trabalho (atualmente trabalho de segunda a sexta, das 16h30min as 01h45min).

O ideal é iniciar o mais cedo possível para terminar o mais cedo possível, dessa forma pode-se limpar a área de produção, lavar os equipamentos, guarda-los e ainda descansar ao fim do dia e se sentir revigorado no dia seguinte.

Uma nota pessoal: eu não gosto de produzir no domingo por ser um dia de almoço familiar, casa cheia (que, aliás, minha casa não é grande então imagine muitas pessoas em pouco espaço), além de que no dia seguinte já retorno à rotina da vida (estudos, trabalho, etc).

Na brassagem em si não houve nenhum problema. Fiz uma infusão simples a 65°C durante 1 hora.

Ao término da conversão dos açúcares, iniciei a filtragem do mosto para separar o líquido do bagaço de malte. O mosto passou por recirculação duas vezes tornando-se límpido.

Observação: na recirculação vou baldeando o mosto vagarosamente, pois não tenho um sparge.

Até aqui tudo bem, sucesso! O problema começa na lavagem do bagaço. Lembra que eu acordei tarde e cansado?! Então, o reflexo disso começou a surgir na hora de lavar e recircular o lavado. Admito, fiz muito pelas coxas essa etapa, pois já estava exausto e queria finalizar logo a produção.

O processo de lavagem e recirculação do lavado tem como objetivo extrair o residual de açúcares que ainda estão presos no bagaço de malte.

Lava-se o bagaço com água (o volume varia de acordo com a quantidade de grãos e o volume total de cerveja) aquecida em temperatura entre 65°C e 75°C (temperaturas superiores podem extrair taninos, o que é algo indesejável).

Esse processo deve ser monitorado com densímetro, pois a densidade nos indica o fim da lavagem quando seu valor chega a 1,010 a 20°C.

A FERVURA


No processo de fervura não houve nenhum contratempo.

Hot break, adição de lúpulos, whiflock, whripool, resfriamento, cold break, transferência e inoculação do fermento. Tudo dentro da normalidade.

Nesse ponto gostaria de ressaltar uma coisa normal entre todos os cervejeiros, mas que me incomoda um pouco que é a perda de mosto no trub.

No futuro pretendo adquirir um recipiente cilíndrico de base cônica com um chiller já embutido para minimizar a perda. 

Nessa brassagem descartei ~2,8 litros de trub misturado em mosto.

Trub

A FERMENTAÇÃO E ETAPAS SUBSEQUENTES


O fermento foi inoculado na madrugada do dia 08 e a fermentação durou 7 dias em temperatura controlada de 19°C.  Até aqui, tudo OK.

Reduzi a temperatura do termostato para 0°C para que a bebida maturasse por mais 15 dias e lá deixei.

Agora que a coisa desanda!

No dia 28 de outubro inicio os preparativos para o primming e envase da bebida. Retiro o fermentador da geladeira e levo para a sala onde ocorre o engarrafamento, dreno o fermento do cone do fermentador, preparo o açúcar invertido, eis que, quando vou abrir a tampa do fermentador para adicionar o xarope e homogeneizar a bebida, eu vejo o airlock SECO, VAZIO, SEM NADA.

Airlock (erlenmeyer)


Para quem não sabe, durante a fermentação ocorre formação de CO2 que é liberado por uma saída no tanque. Essa saída é imersa em água (pode-se usar também álcool ou uma solução alcoólica, mas em termos gerais, água já resolve) para que não entre ar no fermentador, pois podem ocorrer reações químicas com o ar ou contaminações. O recipiente contendo água e que o gás passa para ser liberado se chama airlock.

Em algum momento entre o dia 14 e o dia 28 o airlock secou e a mula que vos escreve não monitorou isso daí a bebida ficou exposta à atmosfera, oxidando, consequentemente.

Na degustação detectei alterações de sabor, mas mesmo assim decidi envasar a bebida, pois não parecia nada significativo a princípio (ledo engano) e não sabia por quantos dias a bebida foi exposta à atmosfera.

Também não sabia se era oxidação ou contaminação.

No mesmo dia (28) engarrafei tudo e aguardei a carbonatação.

Hoje, dia 02 de novembro de 2017, ao alcançar 2 volumes de CO2 separei uma garrafa para gelar e degustei.

A cerveja


O aspecto está muito convidativo. Cor e carbonatação estão muito boas.

Infelizmente esse lote não se encontra em condições de consumo. O aroma agradável das cervejas ale foram para o caralho haha, além do gosto residual de papel. Outro ponto é que notei que a função alcoólica estava mais evidente.

Resumindo...

Tabela 01 - Problema, Causa, Consequência e Possíveis Soluções

 
Um ponto interessante que observei foi que não houve contaminação microbiológica, seja por bactérias, fungos ou leveduras selvagens, da cerveja.

A partir de agora começo a especular:

Creio que isso se dá por um processo eficiente de limpeza e sanitização da minha geladeira e também ao fato da temperatura muito baixa.

Talvez, mesmo que tenha ocorrido contaminação por bactérias ou leveduras selvagens durante o tempo de exposição da bebida, estas não conseguiram se desenvolver de forma significativa devido ao meio ser propício às leveduras já desenvolvidas.

Nota sobre microrganismos: em um meio contendo nutrientes e diferentes tipos de microrganismos ocorrerão competição onde um se desenvolverá mais que o outro. Nesse ponto pode ocorrer inibição daquele que se encontra em cenário desfavorável ou pode ocorrer mutualismo. Em termos gerais, se o meio é favorável a todos os tipos de organismos, bactérias se desenvolverão mais rápido que leveduras, e leveduras se desenvolverão mais rápido que mofos, salvo se algum destes se encontrar em quantidade superior. Portanto, num meio onde o crescimento de leveduras é favorável, este pode inibir o crescimento de outro microorganismo.

Em textos futuros vou abordar de forma profunda o tema microrganismos, pois é um assunto muito extenso e complicado onde cada situação demanda um estudo.

Vou encerrando o tema por aqui. Eventualmente haverá mais publicações, não deixe de conferir.

Que o copo de vocês esteja sempre cheio.

Um abraço!


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